Depois de um longo período
de hibernação, onde coloquei a imaginação em stand by, pra que ela pudesse se
reinventar, assim fortalecer. Foi um mal necessário, minha mente cansada já não
se alegrava, com os desenhos que no papel tatuava. Por isso foi preciso o
distanciamento do caos, que misturava os instintos artísticos, criando obras de
completo abandono.
Só o tempo cura as
feridas, ele também organiza as ideias, e mostra novos caminhos para, quem está
cansado de andar em círculos.
No domingo o dia
estava ensolarado e lindo.
Então quando peguei
meus lápis, os papeis e as aquarelas e, coloquei todos juntos dentro da
mochila, junto com a tecnologia chamada Ipad. O passado e o futuro se uniram
para escrever o presente. E partimos para uma aula de modelo vivo no Sesc
Pompeia, lugar que não pisava há muito tempo.
Assim que entrei na
sala e vi as mesas, os refletores e toda aquela gente carregando malas maiores
do que a minha, quase desisti. Senti os braços tremerem, e a minha mente
rodopiar a procura de uma fuga, será que eu estava pronta para isso.
Não podia desistir já
havia chegado muito longe. Essa não era uma opção, definitivamente não iria
voltar sem o que fui buscar.
A modelo já era
conhecida, uma senhoria baixinha e gordinha, até o orientador era o mesmo do último
encontro, que eu não recordo mais quando foi, só sei que foi a um bom tempo atrás.
As caras em volta também eram as mesmas, nesse tipo de aula sempre iremos
encontrar as mesmas pessoas, porque sinto que neste nosso mundo pequeno, onde
os interesses são os mesmos e, até os fins, apesar de diversos, nos levam ao
mesmo lugar, o desenho.
Sentei-me à mesa,
peguei os meus materiais lentamente, sussurrando um mantra, eu vou conseguir,
sei que vou conseguir. Peguei uma folha de papel e escrevi “pânico”.
Então a modelo se
congelou na minha frente, e como se nunca tivessem esquecido o seu oficio, as
minhas mãos desenharam como há muito tempo não faziam. E os meus traços se
encontraram novamente e juntos criaram imagens, simples e delicados desenhos, o
tipo de desenho que gosto, leve e desprendido, livres do cárcere da perfeição.
A tarde seguiu tranquila
e o pânico manteve-se na sua insignificância, porque o amor pelo oficio da arte,
que estava esquecido na gaveta junto com as tintas, agora tomou o seu lugar,
aquele a qual nuca deveria ter renegado, entregando os pontos, a toa sofrido.
A perfeição é uma
palavra que escraviza e, angustia a alma dos artistas, ela deve ser perseguida,
mas jamais o verdadeiro motivo para expressar sua arte. Porque ela vai roubar o
melhor de uma alma criativa, e secar a imaginação que brinca.
Aprender com o tempo,
que tudo passa lento ou apressado, mas só o que é feito com amor é etéreo.
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Sou a Ninfa que trançou as barbas de São Pedro, amarrou os cadarços das botas de Papel Noel, a garota travessa que escondeu o Tridente de Poseidon, e cansada foi dormir sob uma cerejeira ao lado da lebre, que foi deixada pra trás pela tartaruga que andava, depois de um dia criativo.
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