Filme Ela - Uma reflexão sobre relacionamentos num mundo conectado


As técnicas criam novas condições e possibilitam ocasiões inesperadas para o desenvolvimento das pessoas, mas elas não determinam automaticamente nem as trevas nem a iluminação para o futuro humano. Pierre Lévy

Ainda colocando em dia as postagens atrasadas do blog, vou falar um pouco sobre o que eu senti ao assistir o filme Ela, estrelado por Joaquin Phoenix esse filme é de 2013, demorei um pouco para assisti-lo, mas valeu muito a pena.
A primeira sensação que tive ao ver o filme Ela foi "isso não está longe de acontecer", se é que já não está acontecendo. Os seres humanos estão vivendo um caso de amor tão grande com os seus smartphones e seus aplicativos, que andam esquecendo-se de interagir entre si, ou melhor, não sente a necessidade disso.
Bem já falei um pouco sobre esse assunto por aqui num texto sobre o Whatsapp, a pessoa senta ao seu lado e simplesmente te ignora, bem aqui eu não me referindo a pessoas desconhecidas que sentam ao seu lado no transporte público, mas sim a cônjuges, pais, filhos, namorados, amigos e por aí vai. Até a minha mãe que era totalmente avessa a essas novas tecnologias se rendeu ao Whatsapp. Aliás, quem ensinou Mamys a usar o smartphone dela foi a minha sobrinha de 6 anos, que já nasceu dentro da geração conectados.
Mas o foco central desse filme não é essa nova geração Web.3, e sim as pessoas que nasceram em gerações anteriores, do tipo que fez curso de datilografia, mas que estão sendo enfeitiçadas pelas facilidades dos dispositivos móveis.


A saber, Theodore, personagem de Joaquin Phoenix, é um escritor solitário, que acaba de comprar um sistema operacional para o seu computador. Pra sua surpresa, ele acaba se apaixonando pela voz desse programa informático, dando inicio a uma relação amorosa entre ambos. Esta história de amor incomum explora a relação entre o homem contemporâneo e a tecnologia. (Adorocinema)
Assim Ela é um sistema operacional que foi desenvolvido para servir de companhia/secretária das pessoas, algo que me lembrou muito as damas de companhia na época monárquica, ou governantas pros lordes ingleses. Mas Ela é um sistema que também é capaz de interagir e aprender com o seu proprietário, em suma quanto mais a pessoa interage com o sistema, mais aprende sobre o seu proprietário e a realidade a qual ele está inserido. Em contrapartida, o sistema devolve um mecanismo de interação completamente personalizado.
Dentro dessa experiência de troca entre sistema operacional e homem, Theodore foi sentindo cada vez menos necessidade de interação com outra pessoa, que esteja inserida dentro do contexto de corpo e alma, e foi se fechando em seu próprio mundo. Com isso ele perdeu a capacidade de conviver e dialogar com os seus semelhantes, ele deixou de ser um ser social.
Esse filme daria uma tese de mestrado, tamanha a complexidade do tema abordado, mas como preciso ser concisa vou me manter no assunto homem como ser social. Como disse Aristóteles “o homem ser um animal social”.
“As primeiras uniões entre pessoas, oriundas de uma necessidade natural, são aquelas entre seres incapazes de existir um sem o outro, ou seja, a união da mulher e do homem para perpetuação da espécie (isto não é resultado de uma escolha, mas nas criaturas humanas, tal como no outros animais e nas plantas, há um impulso natural no sentido de querer deixar depois, como indivíduo, um outro ser da mesma espécie).
Como costumamos dizer, a natureza não faz nada sem um propósito, e o homem é o único entre os animais que tem o dom da fala.” (Política)



De tal forma que, em diversos momentos do filme vemos pessoas conversando sozinhas, ou que parecem estarem falando sozinhas, aquela sensação que tenho toda vez que vejo alguém usando os fones para falar ao celular, é estranho, as pessoas gesticulas e muitas vezes gritam olhando para espelhos e vidros de lojas, ainda estou me adaptando a tudo isso. Em uma das cenas o Theodore observa um homem dançando sozinho no hall de um prédio, com movimentos lentos e bem marcados, como se estivesse praticando yoga. Temos também as cenas onde Theodore passeia acompanhado de Ela para a praia e para um parque, onde Ela cria uma experiência bem diferente do que ele estava acostumado, mas em nenhum momento ele interage com as pessoas que estão a sua volta, somente com Ela.
No decorrer do filme os sistemas operacionais vão transformando a vida das pessoas, como o que ocorreu com a amiga de Theodore, Amy personagem da atriz Amy Adams, ela saiu de um relacionamento amoroso e carnal, para entrar um relacionamento com o seu sistema operacional. Esses sistemas criam uma dependência nas pessoas que só pode ser comparada a dependência em drogas, e como mergulhar no desconhecido e se perder de si mesmo. Afinal o sistema sabe tanto sobre você, que você acredita que mais ninguém vai poder dar a felicidade que ele proporciona. E o sonho da humanidade realizado, alguém que te ama e que não questiona as suas escolhas.
Mas como nem tudo são flores, e o conhecimento liberta, quanto mais o sistema aprendeu mais ele começou a questionar a própria existência, portanto, mais ele foi se humanizando. Engraçado como durante o filme os sistemas vão evoluindo e os humanos parecem que se perderam dentro desse processo.
O filme Ela merece um momento da sua atenção, pois o final dele é surpreendente, um dos poucos finais que eu considero perfeito para uma história tão complexa.


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ABOUT THE AUTHOR

Sou a Ninfa que trançou as barbas de São Pedro, amarrou os cadarços das botas de Papel Noel, a garota travessa que escondeu o Tridente de Poseidon, e cansada foi dormir sob uma cerejeira ao lado da lebre, que foi deixada pra trás pela tartaruga que andava, depois de um dia criativo.

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