Não sei se vocês acreditam em coincidência, mas toda vez que fico em
casa, por motivos de força maior, esse filme Case-se Comigo passa na Fox, e
sempre no mesmo horário pela manha, eu já havia escrito este texto a algum
tempo, mas resolvi publicar ele agora.
Case-se Comigo é o titulo de um filme de 2010 feito pra TV estrelado
pela atriz Lucy Liu, que é bem bonitinho.
O pano de fundo da história é acreditar que a vida pode ser um conto de
fadas, sim caros amigos, porque Hollywood perdeu e perde muito tempo e
criatividade plantando em nossas mentes, que a vida pode ser um conto de fadas.
Agora pensando bem a gente quer mesmo viver um conto de fadas? Porque a versão
original de alguns contos de fadas, não passam de histórias pra traumatizar, e
alertar sobre os perigos encontrados na floresta que ficava na porta ao lado.
Esses happy ends são coisas inventadas pelo Walt Disney, que já planejava criar
o Disneyworld. Ou Disneyland para os mais antigos.
Vamos a alguns exemplos, o príncipe estuprou a Bela Adormecida, sim
pessoas, porque na história a nossa Adormecida engravidou durante o seu longo
sono de beleza, e não foi nenhum milagre do divino espirito santo, eu garanto.
E vocês já se imaginaram vivendo no meio de uma floresta com sete
homenzinhos, que não veem mulher a anos, só de pensar eu tremo.
E porque cargas d'água
a chapeuzinho vermelho primeiro teve que tirar toda a roupa para deitar ao lado
do lobo mal, e não estou me referindo ao lobo da Saga Crepúsculo, porque ao lado
desse eu deitaria fácil.
E ainda teve a pobre
da Pequena Sereia que depois de ter entregado a própria voz, para conseguir o
seu par de pernas e tentar conquistar o príncipe, acaba virando espuma do mar
porque o lesado não se apaixonou por ela.
Como nos conta Bruno Bettelheim em seu livro A psicanalise dos contos
de fada, “o certo é que o conto de
fadas esclarece as crianças sobre si mesma, sendo que o significado do conto de
fadas será diferente para cada pessoa.”
Mas enfim, voltando ao nosso filme.
A película conta a história de uma mulher que passou a vida inteira
esperando viver um conto de fadas, até que ela conhece um Arquiteto Gato “of
course” que a pede em casamento logo de cara, e a partir daí as coisas só
complicam, porque surge o amigo gato “na minha opinião nem tão gato assim”, e a
pede em casamento também, mas como a criatura é bem esperta, e muito, muito
rico, ele faz o pedido de casamento durante uma viagem a Europa, onde os dois
partiram para viver o tal conto de fadas. Ok está começando a ficar repetitivo.
Ainda em A psicanalise dos contos de fadas, é só partindo para o mundo
que o herói, no nosso caso heroína, pode se encontrar, e assim fazendo
encontrará também o outro com quem será capaz de viver feliz para sempre.
Para contar essa história de amor, foram utilizados todos os clichês de
filme de comédia romântica, apesar de eu achar que ficou faltando o cavalo
branco, mas como sou moderna estou considerando o avião que o amigo fura olho,
usou pra levar a nossa bela protagonista a seu passeio encantado na Europa, o
cavalo alado da terra encantada. Ah! E o nosso príncipe encantado também usa um
avião pra viajar e reconquistar a sua amada.
Desde o encontro do casal romântico, que se detestam a primeira vista,
que ainda é um cara lindo que cozinha
muito bem, ao amigo que tem inveja do amor que o nosso herói conseguiu
encontrar, sem precisar desembolsar rios de dinheiro, assim todas as cenas
típicas de filmes da sessão da tarde estão lá.
E o porque afinal eu gosto desse filme, e ainda indico ele?
Justamente por isso, pelo fato de ele tentar desde o inicio nos
convencer de que o ideal de amor não existe, que foi programado em nossas
mentes pela industria do entretenimento, mas porque?
Porque a ilusão é rentável, convencer uma pessoa de que ela precisa de
mais a cada dia, e que não importa o quanto ela lute vai sempre estar faltando
alguma coisa, alimenta o capitalismo e os bolsos dos Estúdios de Hollywood.
É triste caros, só que é a pura verdade. Mas é possível aprender algo
com isso.
A personagem de Lucy Liu é uma assistente social que desistiu de ser
artista para ajudar outras pessoas, que assim como ela foram adotadas, e que
após ter sido abandonada pelo namorado,
sai a procura de um novo amor, e para isso se cadastra em um site de
relacionamentos, só que ela acredita em
contos de fada e espera viver um romance de livro.
Como uma mulher tão moderna e independente pode acreditar em contos de
fada? Seria essa uma maneira de se defender de futuras desilusões amorosas??
Afinal em nosso mundo contemporâneo esse tipo de atitude é algo estranho quando
se pensa em uma mulher tão autossuficiente.
Vamos analisar o fato pela ótica de Clarissa Pinkola, sobre a mulher
selvagem extraída do livro Mulheres que correm com lobos, onde as questões da
alma feminina não podem ser tratadas tentando-se esculpi-lá de uma forma mais
adequada a uma cultura inconsciente, nem é possível dobra-lá até que tenha um
formato intelectual mais aceitável para aqueles que alegam ser os únicos
detentores do consciente. Aqui ela fala sobre o adestramento que as mulheres
sofreram ao longo dos séculos, onde elas foram obrigadas a disfarçar o seu
próprio eu, seguindo uma exigência social. Isso também é um tema tratado no
filme, visto que a personagem da nossa película desiste de ser uma artista,
talvez porque ache que tem uma divida com a sociedade, afinal ela foi uma
criança adotada por uma família feliz e
amorosa.
Vamos assim encontrar o arquétipo da mulher selvagem, e tudo o que está
por trás dele, de modo que o benfeitor
de todas as pintoras, escritoras,
esculturas, dançarinas,
pensadoras, rezadeiras, sobretudo de
todas as que procuram e as que encontram, pois elas todas se dedicam a
inventar, e essa é a principal ocupação da mulher selvagem, segundo Clarissa
Pinkola.
Mas em contra partida a gente precisa sonhar, porque o ser humano sem
sonhos não evolui, como diria Darwin só os mais fortes sobrevivem e os mais
fortes são o que acreditam que podem mudar a sua própria realidade. Confuso?
Espero que não. Vou parar por aqui senão vou entrar em uma outra
discussão levantada no filme, as novas estruturas familiares, porque o padrão
pai, mãe e filhos já está ultrapassado.
Ocorre que esse filme é um bom filme, para aqueles dias que você acordou
parecendo uma uva passa, e decidiu ficar em casa cozinhando o galo, pegue o seu
edredom da Zelo, a pipoca de microondas, junto com o refrigerante diet e
mergulhe no sofá, ao som de Just the way you are de Bruno Mars.
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Sou a Ninfa que trançou as barbas de São Pedro, amarrou os cadarços das botas de Papel Noel, a garota travessa que escondeu o Tridente de Poseidon, e cansada foi dormir sob uma cerejeira ao lado da lebre, que foi deixada pra trás pela tartaruga que andava, depois de um dia criativo.
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