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nos primeiros minutos do filme a minha tela foi invadida por paisagens belíssimas,
que já vão preparando a sua alma para o que vem a seguir. Assim no decorrer do
filme você se dá conta de que essas paisagens foram as inspirações para os
quadros de Einar Wegener. Aí a ficha caiu e a chamada iniciada. Sim eu
mergulhei no clima retrô do filme.
Em
A Garota Dinamarquesa o ator Eddie Redmayne (que eu ainda não consegui definir
se é bonito ou feio, por isso coloquei ele no modo estamos verificando),
interpreta Lili Elbe que nasceu Einar Wegener e foi a primeira pessoa a se
submeter a cirurgia de mudança de gênero. O filme narra os anos do casamento do
pintor com a também artista Gerda Wegener, e a descoberta da sua sexualidade
que culminou com a sua transformação em mulher. Se é que posso chamar de
transformação, visto que ele já vivia com essa mulher guardada dentro si.
Mas
falando um pouquinho sobre a parte artística do filme, afinal a arte foi a
linha que costurou a narrativa. A fotografia do filme é linda, com a
predominância de tons amarelados que deram o toque vintage que a narrativa
exigia, criando o clima suave que combinou perfeitamente com o jeito como a
história foi contada. Aliás, eu adoro filmes com esse tom envelhecido na
fotografia que me lembra filmes do início do século passado, um outro exemplo é
o filme Meia-Noite em Paris, que curiosamente fala do mesmo período histórico,
seria isso algum tipo preferência minha? Apesar de se tratar de um drama o tom
usado no filme deixou tudo suave e as vezes a gente consegue esquecer como as
pessoas podem ser cruéis. Como tentar ser diferente é too hard to do!
O
interessante é que eu nunca tinha ouvido falar desse pintor Wegener, e olha que
estudei história da arte na faculdade. Então levada pela curiosidade eu dei um
Google nos trabalhos de Gerda e.... Ops! Encontrei uns desenhos pornográficos,
como ela era moderna. O que me levou a achar que o relacionamento dos dois deve
mesmo ter transformado a visão de mundo de Gerda, que no filme foi interpretada
pela atriz Alicia Vikander, que eu nunca havia visto mais gorda na vida, e ganhou
o Oscar de atriz coadjuvante no dia 28 de fevereiro. Como os trabalhos de Einar
o próprio filme diz se tratar de paisagens não tive o interesse de vê-los.
Ocorre que eu gosto de desenhar gente e acabei me identificando com o trabalho
dela.
Agora
vou falar um pouco sobre a descoberta da sexualidade de Einar e como isso
transformou a vida de ambos. Afinal Gerda foi uma mulher parceira que no
momento que o marido mais precisou ela estava ali para dar suporte, mesmo que a
sua vida estivesse de pernas pro ar e tudo o que sonhava havia acabado.
No
filme The Danish Girl eles comparam a personalidade de ambos e Gerda é a garota
desinibida, como muitas vezes o marido fala, e acredito que essa característica
acabou ajudando. Tem uma cena no início do filme que alguém se dirige a ela e
diz que ela também deveria pintar como o seu esposo, só que Gerda também era
uma artista, entretanto uma artista que ainda não tinha sido reconhecida. Pois,
ela ainda não havia conseguido vender e nem expor os seus trabalhos. Em outra
cena ela vai até uma galeria para mostrar os seus quadros e o curador diz que
apesar de bons os trabalhos dela ainda não tinham qualidade suficiente, e ainda
completa dizendo que quando ela encontrar o tema certo seus trabalhos vão
melhorar. Então quando Einar começa se descobrir como outra pessosa ela usa
isso como tema para os seus quadros, assim Gerda começa a pintar o próprio
marido vestido de mulher e os seus quadros se tornam obras de arte de sucesso,
sendo Lili Elbe a sua musa.
Gostei
de como essa relação de cumplicidade entre Gerda e Einar foi retratada no
filme, o que não deixou-o panfletário e nem didático. Afinal quando Einar
assume seu gênero feminino ele percebe que ser pintor cabia dentro de sua nova
vida, isso era algo que pertencia ao seu EU que ele havia deixado para trás, por
isso ele decide que não vai mais pintar ficando por conta de Gerda a
responsabilidade de manter a família. Então eles criam uma parceria onde Lili é
o tema dos quadros que foram idealizados por ela. No entanto, Gerda começa a
sentir falta do seu marido e os conflitos surgem no decorrer da narrativa, não
vou me estender aqui para não soltar spoilers.
A
Garota Dinamarquesa é um filme muito bonito. A interpretação de Eddie Redmayne
maravilhosa, mas não se trata de um filme com uma história impactante, talvez a
escolha narrativa deixou o filme soft demais e ele acabou ignorando alguns
dilemas vividos pelos transgêneros. Se nos anos 2010 o negócio já é difícil
imagina nos anos 1930? Talvez tenha faltado um pouquinho de coragem do roteiro,
mas é um filme digno.
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Sou a Ninfa que trançou as barbas de São Pedro, amarrou os cadarços das botas de Papel Noel, a garota travessa que escondeu o Tridente de Poseidon, e cansada foi dormir sob uma cerejeira ao lado da lebre, que foi deixada pra trás pela tartaruga que andava, depois de um dia criativo.
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